Ainda
hoje, a data de 22 de abril é marcada oficialmente como o dia em que
a Coroa Portuguesa anunciou o descobrimento das terras brasileiras.
Durante muito tempo, esse evento de dimensões históricas foi
interpretado como o resultado de uma aventura realizada por corajosos
homens do mar que se lançaram ao desconhecido e encontraram uma nova
terra. Contudo, apesar de empolgante, existem outras questões por
trás dessa versão da história que marcou o ano de 1500.
Mesmo
antes de chegar ao Brasil, a Coroa Portuguesa estava inserida em uma
acirrada disputa econômica onde os estados nacionais europeus
disputavam a expansão de suas atividades mercantis. Dessa forma,
cada avanço tecnológico, terra conquistada ou rota descoberta
tornava-se um precioso “segredo de Estado”. Antes de sair
anunciando uma conquista aos quatro ventos, os governantes daquela
época avaliavam minuciosamente os interesses e circunstâncias que
envolviam esse tipo de exposição.
Uma das primeiras pistas
que nos indicam esse tipo de planejamento envolvendo o descobrimento
do Brasil se deu quando Portugal exigiu a anulação da Bula Inter
Coetera e a assinatura do Tratado de Tordesilhas. Afinal de contas,
por que os portugueses repentinamente chegaram à conclusão de que
uma nova divisão das terras coloniais deveria ser realizada? De
fato, essa é uma das muitas outras questões que fazem a versão
romântica do descobrimento cair por terra.
Quando chegamos em
1500, o rei português Dom Manuel I autorizou que o navegante Pedro
Álvares Cabral organizasse uma esquadra que, segundo consta, deveria
aportar na Índia. Para tal propósito foi designada o uso de oito
naus, três caravelas, um navio de mantimentos e uma caravela
mercante. Além disso, foram convocados aproximadamente 1500 homens,
incluindo capitães,
tripulantes,soldados
e autoridades religiosas.
Entre
esses vários participantes da viagem marítima estava o cosmógrafo
Duarte Pacheco da Costa, que, segundo aponta alguns historiadores,
tinha participado de uma expedição secreta que já havia chegado ao
Brasil no ano de 1498. Além disso, um ano após essa sigilosa
viagem, outros indícios apontam que os navegadores Américo Vespúcio
e Vicente Pinzón também fizeram uma breve visita ao Brasil. Mais
uma vez, fica difícil acreditar que os portugueses não sabiam o que
estavam
fazendo.
Para
celebrar a partida de Pedro Álvares Cabral e seus experientes
auxiliares para essa viagem ao Oriente, o rei organizou uma enorme
festa de comemoração que contou com a presença de espiões de
outras nações mercantis da Europa. Dessa forma, nada poderia levar
a crer que os dirigentes portugueses tinham outro plano, senão,
circunavegar a costa africana e – assim como Vasco da Gama –
realizar um novo contato comercial com os indianos.
Contudo,
mesmo estando muito bem amparada, a esquadra de Cabral
“repentinamente” seguiu uma rota marítima completamente
inesperada. As embarcações tomaram distância da costa africana e
realizaram uma passagem pela ilha atlântica de Cabo Verde. Depois
disso, seguiram uma viagem tranqüila que percorreu 3600 quilômetros
a oeste. Passados exatos trinta dias da passagem por Cabo Verde, os
navegantes portugueses avistaram o famoso Monte Pascoal.
Chegando ao território brasileiro, inicialmente chamado de “Vera
Cruz”, o escrivão oficial, Pero Vaz de Caminha, se pôs a tecer um
relato sobre as terras, mas sem citar nenhum tipo de surpresa por
parte de seus companheiros. Depois do reconhecimento das terras,
Pedro Álvares Cabral não fez questão de contar pessoalmente sobre
a presença de “novas terras” a oeste. Ao invés disso, partiu
para a Índia e mandou o navegante Gaspar Lemos oficializar a
descoberta levando a carta de Pero Vaz ao
rei.
Apesar de
tantas evidências justificarem a ação premeditada dos portugueses,
não podemos deixar de salientar que o enfrentamento dos mares era
uma tarefa de grande peso. As más condições de higiene, a falta de
água e alimentos tornava a viagem um admirável desafio. Além
disso, só depois da oficialização feita em 1500 é que se
vivenciaram os tantos outros episódios que, ao longo dos séculos,
explica a peculiar formação da nação brasileira.
Por Rainer
Sousa
Mestre em História